Entre as grandes figuras da pintura portuguesa do século XX, Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) ocupa um lugar de destaque absoluto. Nascida em Lisboa e radicada em Paris desde a década de 1920, foi uma artista cuja obra atravessou fronteiras e redefiniu o modo de pensar a abstração na arte europeia.
A formação e o olhar da artista
Criada num ambiente culturalmente rico, Vieira da Silva demonstrou desde cedo uma sensibilidade profunda para as artes visuais e para a música — influências que mais tarde se refletiriam na harmonia rítmica das suas composições. Estudou pintura e desenho na Escola de Belas-Artes de Lisboa, antes de partir para Paris em 1928, onde frequentou a Académie de la Grande Chaumière. Na capital francesa conheceu o pintor húngaro Árpád Szenes, com quem partilhou vida e atelier.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o casal refugiou-se no Rio de Janeiro, regressando a Paris em 1947. Foi nessa cidade que Vieira da Silva consolidou o seu percurso artístico, tornando-se uma das principais representantes da chamada Escola de Paris — um dos movimentos mais importantes da arte contemporânea do século XX.
A anatomia do espaço
As suas obras, hoje presentes em coleções e museus de todo o mundo (incluindo Bilbau, Paris e Lisboa), são caracterizadas por uma complexa rede de linhas, malhas e planos de cor que evocam tanto a arquitetura urbana como os labirintos da memória. Pintora de uma abstração poética e intelectual, Vieira da Silva explorou a perceção do espaço e da luz com uma mestria singular.
A sua pintura é, ao mesmo tempo, abstrata e figurativa, rigorosa e emocional, racional e intuitiva. Em séries como Anatomia do Espaço — título retomado na atual exposição Maria Helena Vieira da Silva: Anatomy of Space (Bilbau, 2025-2026) — o espaço arquitetónico transforma-se num lugar mental, onde as cidades reais e imaginárias se confundem.
Reconhecimento internacional
Vieira da Silva foi a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts em França, e em 1960 foi distinguida como Commandeur de l’Ordre des Arts et des Lettres. O seu legado permanece essencial para compreender a pintura moderna e a evolução da arte europeia do pós-guerra.
Para além da sua dimensão histórica, a sua obra continua a inspirar novas gerações de artistas e pintores, que veem nela um exemplo de rigor técnico e liberdade criativa.Dentro do nosso espólio encontra-se uma fotografia da artista Maria Helena Vieira da Silva, publicada na revista Jardins des Arts, em Paris, no número 118, datado de 1964. No verso da fotografia observam-se anotações editoriais, com indicações sobre o que deveria ou não ser publicado, bem como marcas de corte destinadas a ajustar a imagem às dimensões exigidas pela revista. A fotografia é atribuída ao grupo Adelman, responsável pelo registo original.
Além disso, no verso da imagem encontra-se uma nota adicional que indica a necessidade de ajustes no corpo da maqueta, especificando que a fotografia deveria ser cortada nas margens laterais, de modo a adequar-se ao formato final da publicação.